quinta-feira, 21 de abril de 2011

GRUPO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS



Na semana que passou fui indicada, pelo Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, a integrar o GNDH - Grupo Nacional de Direitos Humanos, cuja primeira reunião ocorreria na mesma semana da indicação, em João Pessoa/Paraíba. 
Ao tomar conhecimento da indicação, soube ainda que integraria uma comissão voltada às questões ligadas à violência doméstica, aquilo a que todos denominam "Lei Maria da Penha".
Fiquei lisonjeada com a indicação, lógico, e muito, mas muito feliz. Mas admito que não me surpreendeu a escolha. Porque muito embora eu seja, há treze anos, uma Promotora de Justiça classificada numa Promotoria de Justiça Criminal, sempre foi bastante evidente o viés humano que imprimo no meu trabalho.
Isso aliás, tem sido postado aqui ultimamente, pois desde a criação do blog tenho dado publicidade a parte do meu trabalho.
O curioso é que, analisando o conteúdo do blog, o próprio título pareça meio desfocado, muito embora não despropositado, porque não descuro nunca das minhas atribuições de Promotora Criminal - em todos os seus aspectos.
Assim é que, muito embora labute diariamente na persecução penal, aderi imediatamente ao magnífico PROJETO RECOMEÇAR, tão logo me foi apresentado pelo Juiz José Pedro de Oliveira Eckert, porque acredito na possibilidade de ressocialização do apenado. E com esse Juiz que é um exemplo a ser seguido por seus colegas, conseguimos mobilizar a comunidade gabrielense para esse tema tão difícil, e com grandes conquistas para o projeto.
Também por iniciativa do Dr. José Pedro, firmamos parceria com o Município, para que o  CAPS criasse uma REDE MARIA DA PENHA, a fim de atender não só as vítimas da violência doméstica, mas também os agressores, no intuito de cessar esse ciclo perverso. Os resultados tem sido fantásticos - segundo informações dos profissionais que atuam nos grupos, e a minha  própria percepção pessoal, os índices de reincidência das pessoas inseridas nos grupos (reincidindo como vítimas ou como agressores) são até agora nulos.
O curioso é que acerca dessa rede, e do trabalho que venho desempenhando relativamente ao tema violência doméstica, eu não havia publicado nada ainda no blog.
Mas nada é por acaso, e é certo que todo material que recebi da querida e maravilhosa Martha Narvaz, Psicóloga com quem tenho trocado alguns emails, donde recebo valiosíssimo material para aprendizado sobre violência doméstica e também abuso sexual (outro tema ao qual tenho especial dedicação), agora terá outro destino que não somente manifestações processuais - passarei a postar também sobre violência doméstica, quando autorizada por seus autores.
Em homenagem a essa nova missão que me foi atribuída e que, com sincera humildade, espero ter a chance de contribuir na mudança de qualquer realidade nesse imenso Brasil, é que termino esse post (outro post com fotos e comentários específicos sobre a reunião do GNDH, em breve) com uma pequena história do magistral Eduardo Galeano, do seu livro "Espelhos":

Mudança de nome

Aprendeu a ler lendo números. Brincar com números era o que mais a divertia e de noite sonhava com Arquimedes.
O pai proibia:
- Isso não é coisa de mulher - dizia.
Quando a Revolução Francesa fundou a Escola Politécnica, Sophie Germain tinha dezoito anos. Quis entrar. Fecharam as portas na sua cara:
- Isso não é coisa de mulher - disseram.
Por conta própria, sozinha estudou, pesquisou, inventou.
Enviava seus trabalhos, por correio, ao professor Lagrange. Sophie assinava Monsieur Antoine - August Le Blanc, e assim evitava que o exímio mestre respondesse:
- Isso não é coisa de mulher.
Fazia dez anos que se correspondiam, de matemático a matemático, quando o professor soube que ele era ela.
A partir de então, Sophie foi a única mulher aceita no masculino Olimpo da ciência européia: nas matemáticas, aprofundando teoremas, e depois na física, onde revolucionou o estudo das superfícies elásticas.
Um século depois, suas contribuições ajudaram a se tornar possível, entre outras coisas, a torre Eiffel.
A torre tem gravados os nomes de vários cientistas.
Sophie não está lá.
Em seu atestado de óbito, de 1831, aparece como dona de casa e não como cientista:

- Isso não é coisa de mulher - disse o funcionário.












Nenhum comentário:

Postar um comentário