sábado, 19 de junho de 2010

Adeus a José Saramago


Neste mesmo blog já postei alguns ditos de Saramago, por quem sempre nutri admiração imensa. Sua morrte me faz triste, pois perde-se um homem de grandes idéias, e coragem para dizê-las, e sempre de forma magnífica. Foi consagrado com o Prêmio Nobel de Literatura - único escritor de língua portuguesa a receber o título.
Em homenagem ao escritor, abaixo transcrevo seu discurso proferido no Palácio Real de Estocolmo, em 1988, ano em que se completava 50 anos da Declaração dos Direitos Humanos, daí porque o escritor lusitano foi tão enfático em suas palavras:

"Cumpriram-se hoje exactamente 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não têm faltado comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, como a atenção se cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios, não é arriscado prever que o interesse público por esta questão comece a diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho contra esses actos comemorativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algumas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desaconselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais.

Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.

Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.

Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de Outubro, as primeiras palavras que pronunciei foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A todos torno a agradecer. E agora também aos escritores portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de hoje: é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam portanto."

José Saramago

Estocolmo, 10 de Dezembro, 1998



Para conhecer um pouco mais do escritor, o seu blog:
http://caderno.josesaramago.org/

A seguir fotografias do escritor que encontrei no blog da Companhia das Letras - http://www.blogdacompanhia.com.br/.


Que alegria a minha a ver fotos de meu amado Jorge Amado junto de Saramago. E ainda Caetano, de quem gosto tanto.


José Saramago e Jorge Amado na casa de Caetano Veloso (ao fundo).



Acima e abaixo: Jorge Amado e José Saramago na Bahia. (Fotos por Zelia Gattai, Acervo de Casa de Jorge Amado)


Jorge Amado e José Saramago na casa de Calazans, em 1996. (Fundação Casa de Jorge Amado)



Zelia Gattai, Jorge Amado e José Saramago na casa de Caetano Veloso, em 1996. (Fundação Casa de Jorge Amado)



Caetano Veloso, José Saramago e Jorge Amado na casa do cantor, em 1996. (Fundação Casa de Jorge Amado)



Adeus Saramago.

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