sábado, 10 de julho de 2010

MAIS DO CONICRACK - a conferência do psicólogo mexicano Ricardo Sanchéz Huesca

Psicólogo mexicano aborda os fatores de risco que levam à drogadição




O psicólogo e terapeuta familiar mexicano Ricardo Sánchez Huesca foi a atração da manhã do último dia do I Congresso Internacional Crack e Outras Drogas, no Salão de Atos da UFRGS. Huesca participa do Centro de Integração Juvenil daquele país e expôs ao público os fatores de risco para o uso de drogas.

O pesquisador apresentou dados que mostram o consumo de drogas nas Américas. Depois da maconha e da anfetamina, a cocaína – incluindo-se aí o crack, é a droga mais utilizada, sendo os Estados Unidos o maior consumidor. Huesca alertou para o alto consumo de inaladores e para o preocupante aumento no uso de anfetamínicos e êxtase. Em pesquisas realizadas no Centro de Integração Juvenil, que está presente em grande parte do México, percebeu-se que o uso de cocaína e crack cresceu na última década. Um dado mais animador, segundo o médico, é o fato de que a maioria da população não usa drogas, sendo escassos os casos problemáticos. Portanto, fica mais fácil estudar os casos.

Ricardo Huesca divide os fatores que influenciam na drogadição em dois. O primeiro é o interno, composto pela vulnerabilidade dos usuários e que levaria mais facilmente ao abuso e à dependência. Já o fator externo acarretaria, principalmente, o uso experimental. Uma pesquisa mexicana ainda mostra as questões macrosociais que conduzem às drogas. Entre elas estão o lugar de residência e a classe social. Homens jovens e com razoável condição financeira seriam os maiores consumidores. Lugares turísticos e perto de pontos de tráfico formam o maior foco de drogas. As baixas condições socioeconômicas, a exclusão da comunidade – como no caso de imigrantes, e a alta densidade populacional, que ajuda os viciados a passarem despercebidos também são fatores que devem ser analisados. Huesca contestou a legalização de algumas drogas, visto que, para ele, a permissividade aumenta o consumo.

A fraca estrutura familiar, como frisa o mexicano, não pode ser tomada como causa direta do consumo de drogas. “Ninguém é culpado por ter um usuário na família”, uma vez que são muitas as causas do problema. A combinação de fatores de risco e a ausência de proteção, afirma, leva ao vício. Porém, o psicólogo não nega a influência de parentes no consumo de drogas. “O ser humano se forma através de modelos”. Por isso, o uso de entorpecentes por parte dos pais pode ser problemático. Huesca afirma que a violência doméstica tem grande parcela de culpa na drogadição.

Pesquisas científicas comprovam a necessidade de amor por parte da família para prevenir os adolescentes.

O meio escolar e as influências de amigos também são citados pelo palestrante como condições determinantes para a inserção do jovem nas drogas, visto que esses sentem necessidade de participar de um grupo. A ausência de orientação, a insatisfação com a vida, a falta de humor e as expectativas positivas em relação ao uso de entorpecentes são os problemas que levam o adolescente a esse caminho. Huesca constata: “É mais que um problema de saúde. É também um problema econômico e de estrutura social. É preciso ensinar o jovem a dizer não aos amigos e a ter auto-estima”.

Ricardo Huesca encerrou sua conferência com um alerta: “Todos buscamos a fuga do sofrimento e a felicidade, mas às vezes procuramos no lugar errado. Devemos proporcionar aos dependentes um ambiente onde todos possamos ser felizes e deixar de sofrer”.




E a Zero Hora publicou a seguinte reportagem sobre a conferência, que reproduzo abaixo:

Afeto e escola para vencer  o vício



Conferencista mexicano diz que dependente químico precisa ser acolhido e cercado de hábitos saudáveis para resistir ao tóxico. Atrair em vez de repelir. Esta é a máxima adotada pelo psicólogo e terapeuta familiar mexicano Ricardo Sánchez Huesca quando o assunto é o trato com os usuários de drogas. Durante o encerramento do 1º Congresso Internacional Crack e Outras Drogas, ontem, em Porto Alegre, Huesca apresentou fatores de risco que levam ao uso de entorpecentes.

O especialista aposta na afetividade para recuperar um dependente químico e diz que a escola pode ser um ambiente de resgate.

– Pais, professores, supervisores escolares devem ser ensinados a acolher o dependente químico, pois o viciado precisa se cercar de coisas saudáveis, se divertir para resistir ao consumo de drogas. Mas, para que isso ocorra, as famílias dos colegas, devem estar bem preparadas para lidar com a situação – diz.

Em contrapartida, o terapeuta relata que é no grupo de amigos que as crianças se espelham. Por isso, os pais precisam ficar atentos aos relacionamentos dos filhos.

Segundo o psicólogo, não é difícil estudar casos graves, pois são minoria.

– É mais do que um problema de saúde. É também um problema econômico e de estrutura social. É preciso ensinar o jovem a dizer não aos amigos e a ter autoestima – afirma.

Especialistas em combate às drogas do México, Colômbia, Argentina e Brasil dividiram experiências com os mais de mil participantes de nove Estados brasileiros durante os quatro dias do evento, que foi realizado no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
  
E o texto a seguir, também da Zero Hora:


Violência e pais drogados induzem os filhos ao vício
Crianças vítimas de maus-tratos e que presenciaram o uso de drogas são mais vulneráveis ao mal



Que os amigos influenciam na experimentação das drogas e que a atração pelo proibido é grande já se sabe. Mas uma pesquisa feita neste ano mostra que a influência do meio familiar pode ser muito mais decisiva do que se imagina na formação do viciado.

Maus exemplos dos pais podem ser determinantes para transformar alguém em dependente químico, revela um estudo coordenado pelo psicólogo clínico Ricardo Sánchez-Huesca, especializado em tratamento de drogados no México.

– Dos dependentes químicos entrevistados, 70% assistiram ou sofreram maus-tratos por parte dos pais. Entre os que não usam drogas, o percentual dos que não vivenciaram violência doméstica baixa para 20% – destaca o especialista no estudo Detecção Precoce de Fatores de Risco para o Consumo de Substâncias Ilícitas.

Huesca é um dos diretores de uma rede de centros de integração juvenil (laboratório preventivo contra drogas e crimes, do Ministério da Saúde mexicano). O trabalho coordenado por ele na Cidade do México ouviu 40 dependentes químicos e 40 pessoas que não usam drogas – todas da mesma faixa etária e da mesma região, para equilibrar a amostragem.

Metade dos entrevistados tinha parentes viciados

O estudo constata também que 50% dos usuários de drogas pesquisados relatam que seus pais ou irmãos mais velhos usavam algum tipo de entorpecente. Entre os não consumidores de drogas, o percentual dos que narram ter familiares envolvidos com uso de substâncias ilícitas é zero.

Huesca acredita que hábitos familiares de consumo de álcool e outras drogas são “sumamente relevantes” para a prevenção e tratamento de drogados – para a prevenção porque o tratamento de adultos usuários de drogas pode evitar a reprodução, por modelo comportamental, dessa conduta em seus filhos. O profissional reforça a proposta de uma maior eficácia terapêutica quando se inclui o modelo de tratamento de toda a família e não apenas do usuário de drogas.

Um terceiro eixo da pesquisa mostra que 23% dos usuários enfrentam dificuldades escolares. Sobretudo, provocadas pela conduta rebelde, o que resulta em expulsão das aulas. Entre os não usuários, apenas 5% relatam dificuldades na escola.
Nas conclusões da pesquisa, Huesca ressalta que muitos dependentes de drogas dizem que, durante a infância, foram deixados aos cuidados de diferentes pessoas. Todos encararam isso como indiferença ou abandono por parte dos pais. Qual a saída? O principal conselho de Huesca é que famílias sejam tratadas, preventivamente, para que seus filhos não se tornem viciados na idade adulta.

O estudo do mexicano será detalhado no 1º Congresso Internacional de Crack e Outras Drogas, que acontece em Porto Alegre entre os dias 7 e 9.

O encontro, que reunirá pesquisadores especializados em prevenção, tratamento e redução do uso de drogas, é promovido pela Associação do Ministério Público, com apoio da RBS.

“70% dos dependentes químicos entrevistados assistiram ou sofreram maus-tratos.”



Sánchez-Huesca, psicólogo



Confira as dicas do terapeuta Ricardo Sánchez Huesca sobre comportamento familiar X drogas



- Crianças que convivem com pais que fumam ou consomem bebidas alcoólicas tem o interesse estimulado.


O que fazer?


Dar bons exemplos de conduta e estimular que tenham momentos prazerosos. 0 adolescente precisa saber o que fazer com o tempo livre.


- Aqueles que se envolvem com amigos que utilizam alguma droga tem a possibilidade de seguir o exemplo aumentada em dez vezes.


O que fazer?


Pais devem indagar sobre o comportamento dos amigos dos filhos. Se detectar que o amigo mais próximo usa drogas, o pai deve incorporá-lo ao ambiente familiar e falar com os pais do usuário.


- Falta de conhecimento sobre o assunto


O que fazer?


É importante que os adolescentes estejam cientes das consequências que pode sofrer se usar algum tipo de entorpecente. Precisam saber que as drogas estão proibidas porque são perigosas.


- Problemas de aprendizagem


O que fazer?


Esse tipo de diagnóstico pode ser feito na primeira infância e deve ser tratado em seguida. Pesquisas mostram que isto está muito vinculado com o consumo de drogas.


- Trabalhar e estudar


O que fazer?


Quando o adolescente começa a trabalhar, começa a ganhar dinheiro. O problema está na disponibilidade financeira aliado à falta de supervisão dos pais.


O terapeuta considera ainda outros fatores de risco como perda de alguém importante da família ou do círculo de amigos, baixa auto-estima e superproteção por parte dos pais. Além disso, meninas são mais sensíveis a problemas familiares e meninos, a problemas escolares.

(fonte: clicrbs)



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