sábado, 5 de junho de 2010

falando com viciados em crack - reportagem do kzuka

Os malefícios do crack




Kzuka na Zero Hora 08/05/2009 - Marcela Donini





Não dê o start



Dois jovens em recuperação contam sobre os riscos de depender do crack



Imagine que você tem uma vida extra. Você poderia extrapolar todos seus limites e recomeçar tudo, com moderação. Só que você não é personagem de videogame. Os estudantes Ana* e Fábio* descobriram isso a tempo. Pararam de usar crack antes do jogo terminar. Aluna de colégio particular da Capital, ela está há cinco meses limpa. Ele estuda em colégio público e está internado há 15 dias, em uma clínica de Porto Alegre. Os dois aceitaram responder a perguntas do Kzuka, por e-mail, para contar por que não vale a pena entrar nessa.


Kzuka – Quando você experimentou o crack, tinha noção do seu alto poder de destruição?



Ana* – Sim, quando experimentei, todo mundo dizia isso, mas não levei muito em conta. Hoje, acho que até contou ser uma droga com mais poder de destruição, assim, eu seria mais eu. “Comigo o bicho não pega”, pensei.

Fábio* – Quando usei pela primeira vez, eu não sabia que fazia tão mal. Quando fui perceber, já estava viciado. Daí, fui saber a quantidade de porcaria que tem na pedra, gasolina, esmalte, cimento...



Kzuka – Como a droga lhe foi apresentada? Seus amigos usam ou usavam?



Ana* – Eu tinha bebido e tava de olho no guri que me apresentou. Acho que isso diz tudo.

Fábio* – Fumava maconha diariamente. Um dia, resolvi misturar com a pedra porque me disseram que era melhor. Estava na casa de um amigo e saí para comprar. Virou diário o uso, fora de controle. Quase todos meus amigos usam, mas fumo sozinho. Eles ficam na rua, eu não. Acho que é por vergonha, medo de que meu pai me pegasse ou soubessem que eu era um drogado.



Kzuka – Quando você experimentou drogas pela primeira vez? E álcool?



Ana* – Álcool com 12 ou 13. Maconha com 15. Aos 15 e 16, eu mandava ver cerveja nas festas.

Fábio* – O crack eu comecei em 2008, mas, o álcool foi há muito tempo, aos 11 anos. O primeiro porre foi aos 14 anos.



Kzuka– Como você se sente hoje?



Ana* – Hoje, sei que poderia ter perdido o trem da vida. A sorte esteve do meu lado. Tô viva. Fisicamente, tô recuperada. Psicologicamente, ainda é difícil. Quando bate a fissura, ninguém me aguenta.

Fábio* – Quando eu usava a droga, me sentia bem. Resolvi um monte de problemas, me sentia legal. Depois, eu fiquei muito mal, muito fraco, comecei a destruir a família, eu mesmo. Agora que eu tô me tratando, tô me sentindo muito melhor, me recuperando.



Kzuka – Como estão os estudos, chegou a interrompê-los? No colégio, sabem da sua situação?


Ana* – Atrasei a 3ª série do Ensino Médio, ano que usei crack. Matava muita aula no final, mas, este ano, sei que vou passar. Se meus pais não tivessem contado na escola sobre o crack, acho que só saberiam que eu usei drogas, e até aí, muita gente usa. Meus pais “botaram na roda”. Fiquei muito revoltada. Agora, acho que foi bom.

Fábio* – Eu não interrompi os estudos, só agora para me tratar. Mas piorei muito na escola. Quando usava drogas, as notas baixaram, não queria estudar. A escola sabe que eu tô me tratando, porque o pai levou um atestado, mas só alguns amigos meus sabem.



Kzuka – Como se deu o início do tratamento?



Ana* – Meus pais me levaram nuns quantos psicólogos e eu não aceitava. Diziam que era pra me internar à força. Como a Amy Winehouse, eu dizia “No, no and no”. Um amigo me levou pro grupo de Narcóticos Anônimos e deu certo.

Fábio* – Minha mãe me aconselhou. Depois que eles souberam, conversaram comigo, daí eu pensei bastante e resolvi me internar.



Kzuka – Como seus pais ficaram sabendo que você usava a droga?



Ana* – Meus pais dizem que foi um telefonema anônimo, mas eu negava, negava, negava. Até que não deu mais pra negar...

Fábio* – Eu escondia deles. Quando eu tava usando maconha, eles souberam por causa do cheiro e dos olhos vermelhos. Com o crack, começou a sumir coisas de casa. Eu tava levando dinheiro, calçados, roupa.



Kzuka – O que diria para jovens da sua idade que nunca experimentaram crack? E para quem usa outras drogas e bebe exageradamente nas festas?


Ana* – Nunca cheguem nessa parada. Atrasa tudo. Atrasa a vida. A ceva ou outra bebida com álcool qualquer é uma roubada. Teria muito pra dizer, mas cada um cuida ou descuida da sua própria vida.

Fábio* – Eu diria que não é bom. Pensem duas vezes antes de usar. O cara perde o controle, pode achar que é forte, mas sempre perde o controle, destrói a pessoa, a família. A droga é muito ruim. Quando tu usa uma droga por bastante tempo, tu quer usar outra. Então, não usem nenhuma droga. Tu não precisas encher a cara para curtir uma festa, se consegue fazer isso numa boa.



*Os nomes foram alterados para presevar a identidade dos jovens

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Se sua vida fosse um jogo e você se deparasse com o crack, veja como poderia ser



Start

Poucos começam no crack sem ter antes experimentado outras drogas, como maconha ou cocaína. Quem fuma um baseado de vez em quando e acha que está tudo bem, que a droga é inofensiva, está enganado. A verdade é que a maconha causa danos no cérebro, como perda de memória e dificuldade de expressão. Antes ainda, o exagero no álcool pode ser o primeiro passo da gurizada no mundo das drogas.



A experimentação

Para ser considerado dependente químico, o usuário precisa apresentar uma crise de abstinência. Isso pode acontecer a partir da primeira vez, se mais de uma pedra for fumada. Normalmente, a droga é apresentada por amigos e atrai pelo baixo preço (uma pedra custa em torno de R$ 5). Antes de o usuário perceber, já está cometendo pequenos delitos, em casa e nas ruas, para sustentar seu vício.



O tratamento

Apoio familiar e força de vontade do paciente são fundamentais. Após a internação, é feita uma avaliação e tratamento com remédios – pra controlar a fissura – e psicoterápico individual ou em grupos, utilizando técnicas que desenvolvem estratégias de enfrentamento em situações de risco, como festas com uso de drogas.



* Bônus

Você pode se tratar corretamente, tomando remédios e frequentando grupos de ajuda e seguir sua vida normalmente. Ou passar para a próxima fase...



A recaída

Diferentemente dos bonequinhos de videogame, você tem apenas uma vida. Sim, já dissemos isso antes, mas, às vezes, parece que é preciso lembrar. Não existem números oficiais, mas especialistas afirmam que o índice de recuperação é baixo, e as recaídas são frequentes entre os pacientes que deixam as clínicas. Voltar a andar com as mesmas pessoas é uma roubada.



Game over

Quanto mais o usuário fuma, mais precisa para se satisfazer. Se você chegou aqui, dificilmente, vai sair... É triste, mas é real. Muita gente morre por causa da droga. Diretamente, pelos danos causados no organismo, ou indiretamente, como em conflitos com a polícia, brigas entre gangues e cobrança de traficantes. A pedra joga o adolescente em um universo de violência do qual é difícil sair vivo.

Crack: Abra o olho!





* 66% dos adolescentes dependentes químicos (drogas e álcool) têm outra doença associada, como depressão ou Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH);


* Há 4 anos, não havia nenhum usuário de crack hospitalizado no Hospital Mãe de Deus, na Capital. Hoje, eles ocupam 40% dos leitos;


* Em um ano, 52% dos meninos viciados em crack que vivem nas ruas de São Paulo entrevistados pela Unifesp morreram;






Ciclos


Segundo o National Institute on Drug Abuse, dos Estados Unidos, a cada 15 ou 20 anos, fecham-se ciclos da droga “da moda”. Isso vale para o mundo inteiro. Dê uma olhada no que rolou nos últimos 40 anos.


Anos 60 e 70 : O barato era “viajar”. Maconha e ácido lisérgico (LSD) eram os preferidos dos jovens.


Anos 80: Nessa época, a galera queria “se ligar”. Os estimulantes da vez eram anfetamina e cocaína.


Anos 90 e 2000: Continuamos em uma fase em que os estimulantes estão em alta entre a galera. Hoje, o crack (uma versão da cocaína) e o ecstasy se popularizaram.






Fontes consultadas: Sérgio de Paula Ramos, psiquiatra coordenador da unidade de dependência química do Hospital Mãe de Deus, na Capital, e José Fernando Aidikaitis Previdelli, psicólogo da Clínica São José e do Hospital São Pedro, na Capital


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Crack não é mais uma droga "chinela": especialista diz que risco chegou à classe A



Psiquiatra diz que a pedra já se espalhou pelos colégios particulares da Capital



Ramos é coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus Foto: Dulce Helfer/BD Zero Hora

A pedra de crack custa cerca de R$ 5. Por causa desse preço, considerado barato no mundo das drogas, a pedra ficou com fama de ser uma droga utilizada apenas pelas classes menos favorecidas. Foram esses jovens que começaram a utilizá-la, mas isso mudou. "Hoje a pedra não é mais uma droga 'chinela', como se diz na gíria", avisa o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos. Ele é coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, e membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e outras Drogas.



Nesta entrevista para o Kzuka, o médico explica por que o crack atrai cada vez mais usuários e enfatiza a necessidade de prevenção. Acompanhe trechos do bate papo.



Kzuka – Quando o crack chegou ao Rio Grande do Sul?

Sérgio de Paula Ramos – Há seis ou sete anos, na região serrana. A primeira cidade onde se registrou a droga foi Caxias do Sul. Quando desceu para Porto Alegre, há quatro ou cinco anos, já era fonte de preocupação local.



Kzuka – É possível traçar um perfil entre os usuários?

Ramos – A maioria são jovens que começaram muito cedo no álcool. E do álcool foram para outras drogas, como a “maconhazinha” no colégio, percebida como droga inofensiva. Muitos pais desavisados me dizem “felizmente, meu filho só está na maconha”. Só que depois, ele cai na cocaína e segue a escalada das drogas até o crack. Hoje a pedra não é mais uma droga “chinela”, como se diz na gíria. Está em todas escolas particulares.



Kzuka – Por que o crack atrai cada vez mais usuários?

Ramos – É mais barato que a cocaína e o “barato” é maior. No Rio, os traficantes seguraram o quanto deu porque perceberam que o cliente não dura, já que o poder de destruição do crack é muito alto. Isso ocorreu lá porque o tráfico é mais organizado. Em Porto Alegre, o crack veio com tudo. O jovem necessita correr riscos, por isso procura esse “desafio”. Não adianta bater na droga e ficar repetindo que “não pode, não pode”. É como criança... Às vezes, o tiro saiu pela culatra...



Kzuka – O que funciona, então, no trabalho de prevenção direcionado ao jovem?

Ramos – Trabalho há 30 anos em prevenção em escolas e vejo medidas que funcionam. O colégio tem de ser visto como uma segunda oportunidade para o estudante. Se os pais são ausentes, o jovem pode encontrar no professor predicados como carisma etc. O colégio também deve diminuir a distância entre pais e filhos. Atrair os pais para dentro da instituição. Em vez de ficar batendo na droga, é preciso valorizar a vida. Dar instrumentos ao jovem para enfrentar situações estressantes, nas quais ele buscaria refúgio no álcool ou nas drogas. Por exemplo, se ele é muito tímido, pode começar a beber para chegar nas meninas. Simulamos situações como festas e desenvolvemos sua habilidade social.

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Tratamento exige que jovem mude seus grupos de amigos, diz psicólogo



Especialista diz que escalada no uso de drogas mudou





O psicólogo José Fernando Aidikaitis Previdelli, que trabalha na Clínica São José com reabilitação de dependentes químicos, em Porto Alegre, convive no dia-a-dia com a galera que acabou se envolvendo com drogas. Nesta entrevista para o Kzuka, ele fala que a escalada no uso dessas substâncias mudou: hoje, em vez de seguir os ciclos tradicionais de passar do álcool para a maconha e daí para coisas mais pesadas, tem gente que começa a se drogar direto com crack.



Previdelli conta que a droga não é exclusividade das classes menos privilegiadas e que a recuperação de dependentes é difícil pois as recaídas são muito comuns. Para ficar "limpo", o jovem terá que mudar os grupos de amigos com quem anda. Confira o bate-papo



Kzuka – Como o jovem chega no crack?



José Fernando Aidikaitis Previdelli – A escalada do uso da droga tem mudado. Hoje já temos pacientes iniciando na cocaína e no crack, embora sejam minoria. Normalmente, começam com álcool e maconha. Trabalho no (Hospital) São Pedro também. Lá tem crianças de oito anos com crack, ou seja, já estão começando direto no crack. São pacientes de classe social mais baixa, em condição de rua.



Kzuka – É possível apontar as causam que o levam à droga?



Previdelli – O pai e a mãe estão cada vez mais ausentes, principalmente a figura masculina, e muitos passam a responsabilidade para a escola. Nas classes mais altas, se percebe a falta de limites por parte dos pais ainda na infância. Na adolescência, é normal que o filho rompa os limites impostos pela família, como tirar boas notas, arrumar a cama, ter horário para voltar de festas, coisas simples, que possam ser recuperadas. Se o adolescente não tem esses limites em casa, ele vai transgredir algo imposto pela sociedade.



Kzuka - Como o crack chegou em classes mais altas?



Previdelli – Uma pedra custa R$ 5. Por isso, facilitou a disseminação em classes mais baixas, inicialmente. O que se observa nas classes mais altas é que é que usam o crack por transgressão, pois normalmente começam na cocaína. O usuário de classe mais baixa usa como fuga de realidade.



Kzuka – Como se dá o tratamento de recuperação do dependente de crack?



Previdelli – Não se tem muitos estudos sobre o crack. É uma droga relativamente nova, cujo uso se iniciou nos anos 80 nos Estados Unidos e, no máximo, há uns 10 anos chegou ao Brasil. A recuperação é difícil, o índice de recaída é bem alto. É preciso o apoio familiar e força de vontade do paciente. Depois da internação, o paciente recebe avaliação, tratamento farmacológico (pra controlar a fissura), e psicoterápico individual, familiar ou em grupos, onde desenvolve habilidades e estratégias de enfrentamento e autocontrole em situações de risco, como festa onde há uso de drogas.



Kzuka – Existe um período ideal para internação?



Previdelli – Não há consenso sobre o período de internação ideal. Quem interna pela prefeitura fica somente 20 dias, um período curto. Por senso comum, se sabe que 30 dias é o mínimo. Depois da alta, nos prontificamos até 90 dias a acompanhar o paciente. Há fazendas terapêuticas em que se pode ficar até nove meses. O adolescente tem uma dificuldade natural da fase em que está em planejar o futuro. Se tu falares em nove meses, para ele, é a vida inteira... É difícil colocar um parâmetro. Tem quem saiu e nunca mais usou a droga.



Kzuka - Depois do tratamento, é possível voltar a viver normalmente?



Previdelli - Um paciente vai ser dependente químico pro resto da vida, mas em abstinência. Tem que seguir o tratamento,é uma batalha. Há chances de se tratar, claro. Mas tem que haver uma série de mudanças. Tem de mudar os grupos com que anda. O estudo é algo interessante de ser trabalhado, há um consenso na classe científica de que o estudo é uma das coisas que afasta das drogas. Não só faculdade ou colégio, mas o estudo por conhecimento. Falta muito informação pra gurizada. Eles não têm essa noção, é uma droga. O complicado do crack é que, por si só, ele pode matar, vai atacar o Sistema Nervoso Central, mas o que mais mata é o contexto.

2 comentários:

  1. essa vida não é boa não caia nessa!!!
    o crack é a destruição de vidas

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  2. crack é uma roubada jovem pena que nem todos pensam assim mais uma coisa eu posso dizer 99% das pessoas que usam drogas independênte da droga contando que o àlcool tbm e uma droga morrem e so 1% sobrevive mais lembre esse 1% sofre muito muito mesmo.
    jovem nao jogue sua vida fora o próprio nome ja diz e DROGAAAAAAA p/ usar
    se esta muito curioso entao usa......mais lembre-se a curiosidade matou o gato vai la e usa entao o todo poderoso quero ve que poder vc vai ter depois que estiver viciado.UMA CAMPANHA DE CRACK NEM PENSAR.

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