A Associação do Ministério Público do RS e a UFRGS firmaram nesta segunda-feira (26), Termo de Cooperação Técnica para somar esforços visando combater o tráfico e consumo de drogas, assim como seus desdobramentos junto à sociedade. A solenidade realizada no Salão Nobre da Reitoria contou com as presenças do presidente da AMP/RS, Marcelo Dornelles, do vice, Mauro Souza, do reitor Carlos Alexandre Netto, e do diretor do Centro de Drogas e Álcool da UFRGS, Flávio Pechansky, além de integrantes da Administração Central da Universidade e do Ministério Público gaúcho.
O estudo de prevalência e padrões de consumo de crack e as pesquisas clínicas com usuários são iniciativa da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Os primeiros resultados serão apresentados em maio de 2010, durante um congresso internacional sobre crack, na Capital.
Marcelo Dornelles destacou a escassez de dados científicos para subsidiar a adoção de medidas capazes de enfrentar o problema. "Há muitas pessoas falando sobre drogas, mas com poucas informações técnicas", observou. O presidente da AMP/RS, acredita que o pioneirismo da parceria seja repetido em outras regiões. "Estamos preparando um congresso internacional, onde vamos selecionar casos, não só os do Estado, mas também os melhores exemplos que deram certo no combate e prevenção às drogas", completou Dornelles.
O Reitor Carlos Alexandre Netto enfatizou o empenho em conjugar esforços em torno do tema e o ineditismo da parceria. "Poder reunir, internamente, todos os grupos de pesquisa que trabalham nessa área, tanto na medicina, como na psicologia, ciências humanas, na faculdade de educação, isso é o novo", observa o reitor.
Conforme Pechansky, o crack é uma droga nova, que está causando males muito graves a toda a sociedade. Logo depois do ato formal de assinatura, foi realizada a primeira reunião de trabalho entre representantes da AMP/RS e da UFRGS.
Falcão - Meninos do Tráfico é um documentário brasileiro produzido pelo rapper MV Bill, pelo seu empresário Celso Athayde e pelo centro de audiovisual da Central Única das Favelas que retrata a vida jovens de favelas brasileiras que trabalham no tráfico de drogas. A produção independente se tornou popular principalmente por sua transmissão no programa semanal da TV Globo Fantástico, um dos mais famosos no Brasil. O documentário foi feito entre 1998 e 2006 em que os produtores visitaram diversas comunidades pobres do Brasil, registrando em 90 horas na maioria do tempo em forma digital, e um pouco em VHS. O nome do documentário é em razão do termo "falcão" usado nas favelas, que designa aquele cuja tarefa é vigiar a comunidade e informar quando a polícia ou algum grupo inimigo se aproxima. Os dois produtores tiveram que enfrentar o ambiente hostil onde viviam os jovens. A repercussão do documentário no país foi grande, sendo largamente comentado e discutido.
A produção é legendada, em razão da linguagem demasiado informal dos entrevistados, e também contém a tradução de gírias. Os próprios meninos entrevistados ajudavam na produção, posicionando microfones em suas metralhadoras e registrando imagens. Não possui narração, não cita nomes, idade ou localização de onde se está documentando, havendo uma exposição direta, em que só há os depoimentos e as imagens.
O documentário faz parte do Projeto Falcão, que engloba, além do documentário, um livro publicado em 20 de março de 2006 pelos mesmos realizadores do documentário, e por um CD de MV Bill intitulado de Falcão, que foi lançado em 18 de maio do mesmo ano. O livro possui o mesmo título do documentário e se trata dos bastidores das gravações. Publicado pela editora Objetiva, possui 272 páginas e é narrado em primeira pessoa. Os autores ainda discutem assuntos como segurança pública, racismo, repressão policial e a importância do Hip hop para a juventude que vive nas favelas. O objetivo do Projeto Falcão é a de conscientizar a população sobre a realidade dos jovens das comunidades pobres. Nas palavras do produtor Celso Athayde:
O Falcão não é um caso de polícia, não é uma denúncia, não é uma lamentação. Falcão é sobretudo uma chance que o Brasil vai ter para refletir sobre uma questão do ponto de vista de quem é o culpado e a vítima. Falcão é uma convocação para que a ordem das coisas seja definitivamente mudada
— Celso Athayde
Durante as gravações, 16 dos 17 falcões entrevistados morreram, sendo 14 em apenas três meses, vítimas da violência na qual estavam inseridos. Seus funerais também foram documentados. O único sobrevivente foi empregado pelos dois produtores mas acabou voltando para o tráfico até ser preso. Celso e MV Bill estavam à sua procura para que pudessem continuar com uma nova fase de gravações, tendo em vista que, em 12 de outubro, Dia da Criança, a produção será lançada nos cinemas em forma de longa-metragem com o título de Falcão - O Sobrevivente. Para financiar o filme, o rapper terá de vender mais uma vez sua casa, mas diz não se importar com isso. O filme terá como personagem principal o único sobrevivente dos falcões, o menino que sempre sonhou em ser palhaço de circo. Nas palavras de MV Bill:
A gente vai abordar a vida daquele que nunca deixou de sonhar. Que acabou vivo, justamente por estar preso
— MV Bill
O jovem surgiu no dia 26 de março, uma semana após a primeira exibição no Fantástico, no programa do Faustão (também da Globo), se identificando como Sérgio Teixeira. Foi ao programa para pedir uma nova chance, dizendo que seu sonho continua sendo ser palhaço de circo. No programa ainda admitiu que teve chances de se "recuperar" enquanto estava no crime, mas que sofreu discriminação, alegou também ter uma filha. Além da entrevista, o programa mostrou comentários de MV Bill e do secretário estadual de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, Astério Pereira dos Santos. Ainda tiveram outros que deram apoio ao jovem, entre eles o cantor Caetano Veloso e Beto Carreiro, que pretende ajudá-lo. Na oportunidade, Sérgio cumpria prisão em regime semi-aberto.
O que observa-se nas gravações é em como o tráfico de drogas possui influência nas favelas e, consequentemente, na vida do jovem que convive nesse ambiente hostil, além de mostrar o lado humano dessas pessoas. Muitos garotos precisam se integrar ao mundo das drogas para poder sustentar sua família. Segundo a Central Única de Favelas, a maioria dos adolescentes ganha, no máximo, R$ 500,00 para trabalhar no crime. Algumas imagens são consideradas extramamente chocantes, por mostrarem crianças que deveriam estar nas escolas portando armas de fogo. No centro de audiovisual da Central Única das Favelas, que produziu o documentário, os vídeos são feitos e editados pelos jovens das comunidades. MV Bill vêm da cidade do Rio de Janeiro, da favela Cidade de Deus onde mora até hoje. Celso Athayde é empresário dos movimentos musicais rap e hip hop, além de ser um dos fundadores da CUFA (Central Única de Favelas).
Durante as filmagens, o rapper, o idealizador do projeto, disse que chegou a ser preso enquanto falava para uma entrevista do documentário. Além de preso, alegou também ter sido agredido pelos policiais. A declaração foi feita no dia 26 de março, quando o Fantástico mostrava a segunda exibição do documentário. Sobre o assunto, MV Bill diz:
Levei porrada. Mas nem denunciei porque estava no lugar errado e com as pessoas que eles consideravam erradas
— MV Bill
A partir do dia 19 de março de 2006, o Fantástico passou a exibir o documentário em meio à discussões sobre a ocupação do Exército a morros do Rio de Janeiro, o que Athayde considerou como "oportuno". A primeira transmissão, um especial de 58 minutos, correspondeu à metade do programa descontando-se os comerciais. Foi exibido em três blocos, sendo interrompidos apenas por intervalos. Desde 1973, o Fantástico nunca havia dedicado tanto tempo de sua programação a uma produção independente. Além de não haver cortes, foram acrescentados três minutos de novas imagens. O documentário deveria ser exibido em 2003 pelo programa semanal, mas foi cancelado pelos responsáveis do programa, que alegaram questões de foro íntimo
Quando perguntado pelo programa sobre o motivo pelo qual fez o documentário, MV Bill respondeu:
Porque eu vivo perto dessa realidade e eu sempre vi esse problema analisado por antropólogos, sociólogos, especialistas em segurança, que não vivem essa realidade. A idéia é permitir que o país faça uma reflexão sob um novo ponto de vista, que é a visão dos jovens sempre considerados os grandes culpados
— MV Bill
A realidade dos jovens também foi exposta no dia 25 de março, 2006, na TV Câmara às 22h e na segunda-feira de 27 de março na Globo News, reprisando a primeira exibição transmitida pelo Fantástico, também em três blocos a partir das 23h.
Em 23 de março de 2006, o presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva foi presenteado por MV Bill com o DVD e o livro sobre o tema no Palácio do Planalto. Lá, o rapper aproveitou para falar sobre os problemas sociais como a má distribuição de renda.
Ele é o autor, junto com Celso Athayde, do famoso livro e documentário Falcão - Meninos do Tráfico. O documentário é o mais famoso de sua carreira. Ele conta a história de dezessete meninos envolvidos com o tráfico de drogas e suas vidas em diversas favelas; dos dezessete, apenas um sobreviveu. O sucesso do livro resultou no álbum Falcão, O Bagulho é Doido lançado em 2006.
Como escritor, é autor também do livro Cabeça de Porco, lançado em 2005 e co-escrito por Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares.
MV Bill também foi um dos fundadores da Central Única de Favelas, a CUFA, que é responsável por várias atividades sócio-educativas realizadas em várias favelas, entre elas a Liga Brasileira de Basquete de Rua.
Pra quem não teve a oportunidade de assistir ao programa quando foi ao ar, recomendo que veja os três vídeos abaixo, do 'Profissão Repórter'. São bastante reais, chocantes, e até cruéis em sua verdade. Mas não são em nada fantasiosos, e em tudo se assemelham à realidade que os viciados de São Gabriel e suas famílias vivenciam. Nós só não temos ainda a nossa cracolândia. E temos que nos mobilizar para isso jamais ocorra.
As reportagens, além de mostrarem a crueldade da vida de um viciado, desmistifica a questão acerca do perfil do usuário, mostrando que homens e mulheres, de todas as classes sociais e níveis culturais acabam por se enredar nessa droga mortal.
Por isso é que reputo tão importante as campanhas de conscientização, haja vista que só consigo conceber que essas pessoas tenham experimentado o crack por absoluta ignorância acerca dos verdadeiros efeitos e malefícios que essa droga produz.
Mesmo de férias, quando recebi um convite para palestrar sobre o crack para alguns funcionários das empresas Big Max e Casa do Frango, imediatamente aceitei o convite. Acredito que não sou a pessoa mais autorizada a palestrar sobre o tema, pois ainda incipente no assunto. No entanto, imaginei que aquele momento reacenderia em algumas pessoas o interesse pelo tema, e plantaria idéias que frutificariam para a campanha que tem sofrido atrasos em suas metas (por motivos justificáveis, mas ainda assim, lamentáveis, porque a luta contra o crack deve ser contínua). E estava certa.
Os vídeos que foram apresentados à platéia atenta certamente calaram fundo. Espero que aquelas pessoas sejam multiplicadoras das imagens e depoimentos vistos nos vídeos, porque essa é a idéia da palestra: evitar o surgimento de novos usuários de crack, pela conscientização das pessoas acerca dos malefícios dessa droga.
A prevenção continua sendo o eixo mais importante do projeto, de modo que deve ser priorizado. Assim, quaisquer medidas, ações ou iniciativas, são válidas nesse sentido.
Auxiliaram nessa empreitada os estagiários do Ministério Público, Lucas e Carla, a quem agradeço o carinho e a disponibilidade para colaborar com a palestra.
Agradeço também à Polícia Civil de São Gabriel, sempre parceira do projeto, em especial ao Inspetor de Polícia Jaques Viglemar, que editou o vídeo contendo as reportagens, gentilmente cedido para apresentação durante a palestra.
No dia em que a RBS lançava o desafio "Todos contra o crack", com mobilizações em todo o RS e também em SC, aqui em São Gabriel a Escola de Futebol Cruzeiro e a Igreja do Evangelho Quadrangular organizaram uma caminhada para alertar a população quanto a essa droga tão mortal.
Com saída na Praça Tunuca Silveira, o trajeto foi percorrido por aproximadamente 600 pessoas, em sua grande maioria integrantes da Igreja do Evangelho Quadrangular, que se mobilizaram de maneira ímpar para mostrar à comunidade gabrielense que estão engajados na luta contra o crack.
O Ministério Público de São Gabriel esteve presente na caminhada não só por intermédio de sua Promotora de Justiça, mas também de seus servidores (o Marconi), estagiários (o Lucas e a Marília), e até mesmo ex-estagiários (o Rafael e a Carla), que juntamente com a Escola de Futebol Cruzeiro, tiveram a honra de abrir a caminhada ostentando as camisetas da campanha da AMP/RS, "CRACK: IGNORAR É O SEU VÍCIO?"
Todo o trajeto foi acompanhado pela Brigada Militar, que fez a segurança dos manifestantes, desviando o trânsito para a passagem da caminhada. Os comerciários e pessoas que se encontravam no comércio no momento da caminhada saíram para a rua a fim de prestigiar o evento, demonstrando solidariedade com a iniciativa.
Ao chegar na Praça Fernando Abbot, houve uma blitz para adesivação de veículos que passavam no local.
Após, houve uma apresentação teatral organizada pela Igreja do Evangelho Quadrangular, dramatizando os vícios em geral e a escravidão que as drogas geram, dando ainda ênfase ao que se costuma dizer que são os três 'C's que a o crack pode inevitavelmente conduzir: clínica, cadeia e caixão. Ainda, porque havia uma temática religiosa, a dramatização findou acrescentando um quarto "C": Cristo.
Também a imprensa local prestigiou o evento - a Rádio São Gabriel e o Jornal A Notícia acompanharam toda a caminhada, a blitz e a apresentação teatral. O site Diferenciado também esteve presente no local, registrando imagens.
Algumas da imagens utilizadas nesta postagem foram gentilmente cedidas pelo jornal A Notícia.
A Escola de Futebol Cruzeiro, numa iniciativa elogiável, organizou uma blitz em frente ao BTC, no dia 19 de junho de 2009, com distribuição de panfletos informativos sobre o crack, e também brindes aos veículos que passavam no local.
Várias autoridades prestigiaram o evento, demonstrando seu apoio irrestrito ao tema.
O evento era transmitido ao vivo pela Rádio RBC FM, de modo que a campanha tinha seu início com ampla divulgação e apoio da mídia local, o que é imprescindível para o sucesso de qualquer projeto.
E ao mesmo tempo era realizado na EScola XV de Novembro, um 'Fórum Social", onde a Secretaria de Educação e a Secretaria de Turismo organizaram palestras para presidentes de círculos de pais e mestres, cujo tema era o crack.
Os palestrantes foram os psicólogos Daniela Castilhos e Cícero Pacheco, além do Psiquiatra João Wagner Albert Nunes, que deram valiosa colaboração para o projeto SÃO GABRIEL CONTRA O CRIME, ao explanar sobre os efeitos e consequências do crack no organismo.
Essa talvez tenha sido a ação com maior repercussão dentre todas as estratégias adotadas inicialmente para a implementação do projeto.
Com reuniões semanais, a 'força-tarefa', que se constitui, em verdade, na conjugação de esforços e troca de informações entre Brigada Militar, Polícia Civil e Ministério Público, contou com uma reunião inicial que firmou a parceria e definiu seus integrantes.
Depois de algumas reuniões, foram realizadas algumas operações conjuntas, durante a noite, nas ruas da cidade, nos pontos mais vulneráveis, no intuito de coibir o tráfico de drogas e o porte de armas.
Algumas fotos das operações, que foram realizadas em datas diversas:
As imagens foram gentilmente cedidas pela Brigada Militar e pelo jornal Cenário de Notícias.
Esse é um dos eixos do projeto - a paternidade responsável.
Os comerciais abaixo, que foram produzidos para a ONG Brasil Sem Grades - http://www.brasilsemgrades.org.br/ , são muito ilustrativos quanto à importância da função paterna para evitar o envolvimento dos jovens com as drogas.
Antes mesmo do lançamento oficial do 'SÃO GABRIEL CONTRA O CRIME', que foi marcado somente para 8 de julho em razão da agenda da AMP/RS, várias ações previstas no projetos já foram sendo desenvolvidas, a começar pelo envio de ofícios contendo cópia do projeto a várias autoridades e a todos os segmentos da comunidade gabrielense.
O intuito disso era angariar apoio ao projeto, porque eu sempre tive em mente que não conseguiria fazer nada sozinha, muito menos implementar um projeto tão ambicioso como o que o Assistente de Promotoria havia elaborado (mas, diga-se, factível, desde que haja empenho e colaboração das autoridades e da sociedade na sua implementação).
Tão logo o projeto chegou ao conhecimento da comunidade, o apoio foi irrestrito, de forma que agora não considero que o SÃO GABRIEL CONTRA O CRIME seja um projeto do Ministério Público, mas sim da coomunidade de São Gabriel.
Foram muitos os ofícios recebidos, telefonemas, visitas à Promotoria de Justiça, de forma que não vou citar nenhum para não correr o risco de esquecer alguém.
No entanto, porque algumas dessas adesões foram fotografadas, vou postar essas fotos aqui, representando o universo de pessoas e entidades que prestaram apoio e se dispuseram a auxiliar no projeto de qualquer forma, e de maneira irrestrita.
Eu lamento não dispor de tempo integral para dedicação ao projeto, pois tenho que dar andamento a toda a Promotoria Criminal paralelamente às metas que estabeleci para o projeto. Bem por isso é que houve uma pausa no normal andamento previsto para o projeto, a partir da morte do integrante do MST, pois durante um mês me envolvi quase exclusivamente no acompanhamento do IP e do IPM. São fatos extraordinários, mas não significam que o projeto foi esquecido.
Assim foi meu encontro com o Presidente da Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, o Promotor de Justiça Marcelo Dornelles, quando eu ia com a família passar um final de semana na praia e ele voltava com alguns colegas da Comarca de Torres, onde tinha ido a trabalho, e paramos para almoçar no mesmo restaurante de beira de estrada.
Naquele meio-dia de março, quando o colega Marcelo, entusiasmado, me contou do projeto em que a AMP/RS estava envolvida, para o combate ao crack, imediatamente eu disse: "também quero para a minha Comarca!".
A partir daí germinou uma idéia e acabou nascendo o projeto 'SÃO GABRIEL CONTRA O CRIME', o qual foi elaborado pelo Assistente de Promotoria do Ministério Público, o Marconi, que num lampejo de inspiração fez esse projeto tão ambicioso.
E tão logo ficou pronto, começamos a remeter cópia do projeto a todos os segmentos da sociedade gabrielense, no intuito de angariar parceiros nessa luta.
Em 14 de maio, foi lançada, em Porto Alegre, a campanha da AMP/RS, "CRACK:IGNORAR É O SEU VÍCIO?".
Eu fui a Porto Alegre, porque queria aprender com os colegas.
Veja-se o que foi publicado no site da AMP/RS sobre o evento:
Em evento realizado no final da tarde desta quinta-feira (14), no auditório do Palácio do Ministério Público, em Porto Alegre, foi lançada a campanha Crack - Ignorar é o seu Vício?, concebida pela AMP/RS. Diante de um público formado por representantes do governo do Estado, da Assembléia Legislativa, da Câmara de Vereadores, da Procuradoria de Justiça e de outros órgãos, além de quase uma centena de pessoas, o embrião de um mutirão social foi lançado. O objetivo é despertar a consciência da comunidade em relação à realidade do tráfico de drogas e da dependência química.
(Manoel Soares, MV Bill e Marcelo Dornelles)
O panorama que envolve o crack na sociedade gaúcha, é dramático. Basta analisar os números para perceber o tamanho do problema. Em uma estimativa da Secretaria Estadual da Saúde, o número de dependentes no Estado chega a 55 mil pessoas - a Central Única das Favelas (Cufa) acredita que o universo seja de 100 mil. Somente para abastecer o vício desse grupo, são movimentados R$ 495 milhões por ano com o tráfico de 24,5 toneladas de crack, calcula a entidade.
Para fazer frente a esse inimigo tão feroz, que vicia logo no primeiro contato e leva o usuário a cometer os mais violentos crimes para conseguir mais e mais droga, não será suficiente o esforço das autoridades, disse durante o lançamento da campanha o presidente da AMP/RS, Marcelo Dornelles.
Segundo ele, é necessário despertar a consciência de que é preciso agir de forma conjunta. "Vamos usar uma fala mais direta e menos técnica. Essa droga tem conotação diferente de outras já conhecidas. Exige um enfrentamento igualmente diferenciado. Precisamos chegar às crianças, aos adolescentes, aos pais e levar essa bandeira às ruas. O crack está pontuado em todo tipo de delito. Ações isoladas não terão efeito", alertou Dornelles.
Os números apresentados pelo coordenador da Cufa na Região Sul, Manoel Soares, dimensionando os prejuízos causados pelo tráfico, impressionaram a platéia. Em depoimento gravado em vídeo, Soares também advertiu: "As pessoas estão abrindo mão de seus amores em troca da sobrevivência. Mães matam filhos perdidos para o crack. Jovens matam pais movidos pelo desespero em busca de dinheiro para comprar mais drogas. Temos de Levar informação às comunidades antes que o traficante o faça. Porque ele apresenta uma droga sedutora, e não esse crack destruidor", acrescentou Soares.
O ponto alto da programação, entretanto, foi o depoimento do rapper MV Bill, autor do documentário Falcão - Meninos do Tráfico, entre outros, e fundador da Cufa Nacional. Nascido e morador da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, ele é um dos mais empenhados ativistas nas causas sociais e no enfrentamento à drogadição. "Essa iniciativa é muito importante porque provoca a reflexão das pessoas de todas as classes sociais. Torço para que essa ação se multiplique em muitas cidades, inclusive na minha, para que possamos reduzir as perdas dessa guerra tão desigual", comentou o rapper.
(MV Bill)
Para MV Bill, é preciso andar à frente dos traficantes e antecipar a chegada de conhecimento acerca do crack ao público potencialmente exposto. Segundo ele, nem mesmo na favela a droga é conhecida efetivamente. O líder comunitário também defendeu a abertura da discussão sobre a legalização da maconha e de outras drogas, mas destacou que mais importante é "descriminalizar a educação, que é artigo de luxo e só chega para a parcela da sociedade com maior poder aquisitivo".
Ouvir MV Bill foi para mim a mais grata das surpresas. Fiquei muito impressionada com a força de suas palavras, e o profundo conhecimento que ele tem acerca do tráfico e de tudo quanto o circunda. Em seu discurso era perceptível a compaixão, a humanidade, e a justiça. Fiquei fã. Não pedi autógrafo, mas pedi pra tirar foto.
Fiz ranger as folhas de jornal abrindo-lhes as pálpebras piscantes. E logo de cada fronteira distante subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa.
Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas.
A poesia de Maiakóviski, feita no contexto da revolução russa do século passado, parece ter sido elaborada na medida para os graves tempos que enfrentamos no nosso país, no nosso Estado, na nossa cidade, em que as notícias que brotam dos jornais cheiram a pólvora, e as mazelas sociais e as tragédias familiares geradas pelo crack tomam proporções alarmantes. Mas essas ameaças, havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, como diz o poeta. E é por isso que hoje nos reunimos aqui, para unirmos esforços nessa empreitada.
Porque é imprescindível a união de esforços, de todos os segmentos da sociedade, a fim de combater esse mal que é a drogadição, especialmente agora com a expansão do crack, essa droga tão mortal, que mudou completamente o panorama dos viciados e da violência que circunda o tráfico de drogas.
O crack não é só um problema de segurança pública, ou somente um problema de saúde. Ou, tampouco, trata-se exclusivamente de um problema social. Na verdade, todas essas áreas estão envolvidas e devem atuar conjuntamente para enfrentar esse mal.
O crack é considerado hoje a maior epidemia de saúde enfrentada pelo estado do Rio Grande do Sul. Dados oficiais demonstram que a Gripe “A”, que tanto amedrontou e ainda preocupa a nossa cidade, fez uma vítima fatal no país até o momento. A febre amarela, que mobilizou intensa campanha de vacinação e alarmou a população, provocou, no total, a morte de seis pessoas no Estado do Rio Grande do Sul. O crack mata, por dia, seis pessoas, no nosso Estado, sendo que a maior parte delas morre em decorrência da violência que envolve o uso da droga.
Como chegamos a esse ponto? O que houve para que essa pedra maldita se alastrasse com tanta avidez, destruindo tantas famílias?
Quando José Saramago recebeu o Premio Nobel de Literatura, em 1998, no mesmo dia se completavam os 50 anos da Declaração dos Direitos Humanos. No discurso proferido pelo escritor português ao receber o Prêmio, creio que há um pouco da resposta para esse questionamento tão inquietante, por isso peço vênia para, com as palavras de Saramago, tentar elucidar essa inquietante questão. Disse ele na ocasião:
Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrênica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.
Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.
Pois eu vos concito, senhoras e senhores, a reivindicar os vossos deveres de cidadãos e aderir ao projeto que hoje lhes é proposto, a fim de ver transformada a realidade. Vamos tomar em nossas mãos o destino da nossa cidade, e mudar o rumo de São Gabriel, para ver a nossa juventude livre das drogas, próxima da cultura e, sobretudo, afastada da criminalidade e da exclusão social. Para tanto, o trabalho é longo, talvez até utópico. Mas como já disse Eduardo Galeano, A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
E a nossa caminhada tem sido muito profícua.
A criação da ‘Força-Tarefa’, que contou com a atuação exemplar da Polícia Civil e Brigada Militar de São Gabriel, demonstra que o eixo da repressão ao narcotráfico dará grande impulso às demais etapas do projeto ‘SÃO GABRIEL CONTRA O CRIME’. Mas não é só isso. Há a necessidade do efetivo engajamento da comunidade para que se atinjam as causas do problema da drogadição, caso contrário o traficante preso logo é substituído por outro, que vem suprir a demanda.
Por isso, é tão importante pensar em ações para prevenção e tratamento, com ações articuladas entre vários setores e níveis de governo e da sociedade – como são exemplos o projeto de inclusão social POSSIBILITANDO A CIDADANIA, que busca a inclusão social de jovens de baixa renda, e também o novo projeto desenvolvido pela Escola de Futebol Cruzeiro, que, ao firmar um termo de parceria com o Ministério Público, oferecerá, a partir do mês de agosto, sessenta vagas para crianças e adolescentes em situação de risco, a fim de resgatar esses jovens da vulnerabilidade social.
Estes são apenas exemplos de trabalhos que já estão sendo desenvolvidos por cidadãos que reivindicaram seus deveres, e estão caminhando em direção ao horizonte. Vamos nos unir para essa caminhada que há de ser longa – mas tenho a convicção de que este evento, com a presença de todos os senhores, que desde já eu agradeço, é o primeiro passo.
Para encerrar, valho-me novamente da poesia de Maiakóviski, convidando a todos os senhores para essa luta:
Por enquanto há escória de sobra. 0 tempo é escasso - mãos à obra. Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
(discurso proferido na abertura do evento, pela Promotora de Justiça Ivana Machado Battaglin)